sexta-feira, 3 de outubro de 2014


RIO GIRAHULO
 
     Decorria o ano de 1839 e à baia de Mossâmedes aportava a corveta Isabel Maria, capitaneada por Pedro Alexandrino da Cunha em execução de instruções do Governador Geral do Reino de Angola. Nesta baia deveria encontrar-se com o tenente João Francisco Garcia que de Benguela partira por terra, com passagem por Quilengues, Huila e Jau. Este itinerário fora assim delineado, para que o Tenente pudesse sensibilizar os sobas da Huila e Jau, que subjugavam os povos das praias, da chegada dos brancos aquelas paragens.
     Nessa altura a baia de Mossamedes, tradicionalmente  conhecida por Mussungo Bitoto, tinha um sobado governado por Muena Chipola, cuja povoação ficava a uma milha da praia, na margem direita do Rio Bero. A norte desta baia, desaguava um outro rio, que inicialmente ainda se supôs que fosse um braço do Bero,  denominado Quenina, em cujas margens ficava o sobado de Loquengo.
 
     Chegado à baia uns dias depois da corveta, o Tenente Garcia trazia em sua companhia o Soba Loquengo, que havia liberto do Soba do Jau, onde estava prisioneiro, acusado de feitiçarias. A divida de gratidão do Soba Loquengo ao Tenente Garcia era tanta, que logo quis prestar vassalagem ao Rei de Portugal, para que o pudesse defender dos povos do planalto que frequentemente desciam a estas paragens para pilhar o seu gado.
     Os portugueses movidos pelo mesmo interesse, convidaram o Soba Loquengo a bordo da corveta Isabel Maria, que não sem bastante repugnância, acedeu. Ali foi reconhecido e autorizado em parada geral da guarnição, tendo-lhe sido dado o novo nome de Girahulo, oferecida uma capa de pano vermelha, uma cadeira, um casal de leitões, um galo e uma galinha para criação, pois nada tinha.
     Foi a partir desta data que a denominação de Loquengo e Quenina começaram a dar lugar ao nome Girahulo até caíram completamente em desuso.
 
 
Aurélio Baptista 03-10-2014