RIO GIRAHULO
Decorria o ano de 1839 e à baia de Mossâmedes aportava a
corveta Isabel Maria, capitaneada por Pedro Alexandrino da Cunha em execução de
instruções do Governador Geral do Reino de Angola. Nesta baia deveria
encontrar-se com o tenente João Francisco Garcia que de Benguela partira por
terra, com passagem por Quilengues, Huila e Jau. Este itinerário fora assim
delineado, para que o Tenente pudesse sensibilizar os sobas da Huila e Jau, que
subjugavam os povos das praias, da chegada dos brancos aquelas paragens.
Nessa altura a baia de Mossamedes, tradicionalmente conhecida por Mussungo Bitoto, tinha um sobado
governado por Muena Chipola, cuja povoação ficava a uma milha da praia, na
margem direita do Rio Bero. A norte desta baia, desaguava um outro rio, que
inicialmente ainda se supôs que fosse um braço do Bero, denominado Quenina, em cujas margens ficava o
sobado de Loquengo.
Chegado à baia uns dias depois da corveta, o Tenente Garcia
trazia em sua companhia o Soba Loquengo, que havia liberto do Soba do Jau, onde
estava prisioneiro, acusado de feitiçarias. A divida de gratidão do Soba
Loquengo ao Tenente Garcia era tanta, que logo quis prestar vassalagem ao Rei
de Portugal, para que o pudesse defender dos povos do planalto que
frequentemente desciam a estas paragens para pilhar o seu gado.
Os portugueses movidos pelo mesmo interesse, convidaram o Soba
Loquengo a bordo da corveta Isabel Maria, que não sem bastante repugnância,
acedeu. Ali foi reconhecido e autorizado em parada geral da guarnição,
tendo-lhe sido dado o novo nome de Girahulo, oferecida uma capa de pano
vermelha, uma cadeira, um casal de leitões, um galo e uma galinha para criação,
pois nada tinha.
Foi a partir desta data que a denominação de Loquengo
e Quenina começaram a dar lugar ao nome Girahulo até caíram completamente em desuso.
Aurélio Baptista 03-10-2014