Soba Luhuna
Logo que os
portugueses de Angola tomaram contacto com os povos residentes para sul do
Kuanza, tiveram conhecimento da existência do Humbe Inene (Humbe Grande), imenso território chefiado por um
potentado importante, que subjugou, por muito tempo, povos vizinhos e mesmo
afastados, como o Bié.
Em virtude
desse conhecimento e atraídos por uma alarmante suposição de grandes riquezas,
a cobiça levou de imediato os colonos, após a fundação de Benguela, a procurar
o Humbe Grande e do Humbe Pequeno, conforme se escrevia em 1770: Lá onde “a entrada dos brancos até agora se não tem
podido conseguir, e nem se conseguirá sem grande poder; tanto porque estes negros
são valorosos, em grande número, e de muito ânimo, como porque é contra as suas
leis, o entrarem-lhe os brancos dentro das suas terras (e ainda mesmo negros
vestidos ou calçados). Eles pois dão tanto a conhecer o seu valor e desapego
pela vida, que longe de fugirem nas suas guerras que perdem, esperam a pé firme
pela morte, juntos com o seu soba. Este recebe presentes dos brancos, e só
trata com eles por via de pombeiros pretos. Os seus filhos entram aqui
(Benguela) todos os dias a vender escravos, e marfim. Eles são os que mais
familiarmente se tratam com os brancos; os escravos mais fiéis, e os que mais
resistem aos embarques para a América”.
Como se pode
ver este sempre foi um território cobiçado pelos portugueses e cujo povo
resistia heroicamente a essa penetração e como tal eram frequentes os
conflitos.
Assim em 1886
depois de mais um conflito, os portugueses depõem o soba Tchaungo, que
conseguiu fugir e substituem-no pelo seu irmão Tchioia.
Essa mudança
não trás acalmia à região, porque a força militar portuguesa era insuficiente
para a impor, e à frente dos revoltosos encontravam-se, o soba insubmisso
Tchaungo (preso em 1888), o soba Mané Ntungo (preso também depois de muitos
trabalhos em 1889 no Quiteve) e o célebre régulo Luhuna, que o chefe do concelho
pretendera também capturar, em duas tentativas extremas, feitas no mesmo ano de
1889, sem alcançar, contudo, o seu objectivo. Esse facto aumentou-lhe o prestígio
entre o seu povo, pelo que o numero de seguidores foi aumentando gradualmente,
até que em 1891 Luhuna declara guerra ao soba avassalado Tchioia, que residia
ao lado da fortaleza dos portugueses, procurando substitui-lo.
No relatório
do chefe do concelho do Humbe, capitão Luna de Carvalho para o governador de
Mossâmedes, consta: “Convicto o Luhuna da
impossibilidade de poder atacá-lo (ao Tchioia), aproveitou-se da antipatia que
o povo vota ao actual soba, e, atraindo aquele com promessas, não tardaram as
terras de Muculo, Mahengue e circunvizinhanças a aderirem à sua causa,
exacerbadas como estavam contra o seu soba, por não querer ou não saber dar
chuvas!
O Luhuna, de guerrilheiro que era, depôs as
armas e arvorou-se em cirurgião das chuvas, prometendo que breve faria chover,
o que de resto sucedeu por feliz acaso; com as primeiras chuvas coincidiu a
enchente do Rio Caculuvar, pelo que ele anelava para ver cortadas as
comunicações do soba com a fortaleza, e dois dias depois da enchente, fui
avisado do que o rebelde se dispunha a atacar a embala.”
Nesse sentido,
o dito Capitão enviou 12 soldados para protegerem o soba e dias depois quando
Luhuna atacou a embala, foi repelido pelos soldados que ali não contava
encontrar. Apesar de derrotado, com o seu arrojo, continuou a granjear mais prestígio
e adeptos entre os seus.
Entretanto os
portugueses tentam por via diplomática atrair Luhuna a um encontro com o
intuito de o capturarem, o que não sucedeu porque entretanto Luhuna não
desistindo da sua intenção de derrubar o soba Tchioia, ardilou uma emboscada ao
mesmo. O soba Tchioia, exaltado com a vitória sobre Luhuna, reclamava vitória.
Luhuna fez-lhe constar que se encontrava isolado e desacompanhado. Tchioia,
convence os soldados que lhe davam protecção, prometendo-lhes que lhes
entregaria todo o gado que fosse apreendido na operação, se o acompanhassem
nessa sua intenção de aniquilar Luhuna e assim partem para a batalha. Chegados
ao local onde deveriam encontrar Luhuna, viram-se cercados pelas hostes do
guerrilheiro e foi a hecatombe. Os muhumbes que acompanhavam Tchioia
passaram-se para lo lado de Luhuna e os soldados que não fugiram foram ali
liquidados. O soba Tchioia logrou fugir e foi procurar refúgio na fortaleza dos
portugueses.
Luhuna ainda
se sentiu mais moralizado com a vitória e tratou de se impor como soba do
Humbe. A submissão dos muhumbes não foi tão fácil como previsto tendo que
recorrer mesmo à força, com o apoio de Muene Mufito e Muculo e assim o povo da
margem direita do Caculuvar se curvou perante a sua vontade, reconhecendo-o
como legitimo soba. Com metade da terra a seu lado e coadjuvado por mucuamatis
e mu-dongoenas que se lhe aliaram, fez algumas incursões sobre o povo da margem
esquerda que acabou também por o reconhecer.
Já senhor do
Humbe, faltava-lhe ainda desfazer-se do soba Tchioia que continuava refugiado
na fortaleza portuguesa. Reunindo um pequeno exército composto por elementos do
Humbe, Dongoena, Hinga, Chatona, Aiquero e Qualunde, atacou a fortaleza, que
foi resistindo com muitas dificuldades às suas investidas. Não fora terem
entretanto chegado reforços de peso para os portugueses, Luhuna teria logrado
os seus intentos. Os reforços que chegaram em resposta ao pedido de auxílio
enviado para Mossâmedes, era composto por 20 boers, 30 bushmen, 44 bergdâmaras,
500 muchimbas, 20 bastards, além de caçadores e cavalos do esquadrão irregular,
uma peça Krup, uma metralhadora e o material de guerra suficiente para as
operações. Esta coluna composta na sua maioria por gente afecta aos Boers e
comandada por eles, vinham com o propósito de pilharem o gado aos muhumbes,
fazendo a política de pilhagem e terra queimada.
A primeira
razia deu-se no Mofito, tendo o soba Muene Mofito fugido para as terras do
sogro Muene Chatire, cuja quimpaca era considerada inexpugnável. Atacada com
artilharia e cavalaria, a quimpaca do régulo foi tomada e incendiada, tendo os
mesmos fugido para o Muenhe, perseguidos pela tropa portuguesa e onde se deu
nova e renhida batalha que redundou numa razia aos Humbes. Perante isto Luhuna
refugiou-se no Dongoena. Sabendo disso os portugueses para lá se dirigem e
marchando pela Tchipola dão-se
confrontos sucessivos em Chieti, Econgo, Hinga e Oire. Entretanto Luhuna reúne
o que resta do seu exército numa floresta na Tunda, onde se travou mais uma
difícil batalha onde perderam a vida mais de cem guerreiros de Luhuna e foram
apreendidos 3000 bois, 1000 carneiros e muitas cabras. Esta derrota permitiu
aos portugueses a imediata vassalagem do secúlo Capunda, o mais poderoso da
Hinga, que prometeu prender Luhuna, se voltasse a refugiar-se no seu território.
As operações
para a captura de Luhuna continuam e são raziadas as terras de Chipelongo,
Cabole, Co-Kubango, Chetechete, Hiua, Pucolo e Cacolongombe, dos quais
resultaram a morte de inúmeros apoiantes de Luhuna e a pilhagem de muito gado.
Enquanto decorriam estas operações iam sendo avassalados vários fidalgos
respeitáveis.
Luhuna, batido
em toda a parte, já quase sem apoios, refugia-se na embala do soba cuamato
Aiquer, na outra margem do rio Cunene. Embora sem esperança de o prender,
porque ele fugia a cavalo após cada derrota, resolvem os portugueses atacar a
referida libata, com o auxilio do soba do Cuanhama, que se traduziu em 3500
homens e 6 cavaleiros e da cooperação dos secúlos de Chapelongo e
Chitire-Cafunduca.
O combate
dá-se em Dombeafungue e foi duro e prolongado. Iniciou-se às 16 horas e terminou
no dia seguinte à 1 da manhã. Os apoiantes de Luhuna, que mais uma vez logrou
escapar para o Lueque, sofreram pesada derrota tendo deixado no terreno mais de
200 mortos.
Atenta a
impossibilidade de prender Luhuna e porque talvez já se encontrassem
satisfeitos com o resultado das pilhagens praticadas, retiram os portugueses e
seus aliados em Agosto de 1891 para a Huila.
Note-se que
todos estes acontecimentos se desenrolaram entre Março e Agosto de 1891.
Luhuna, só
terá sido capturado em 1905 pelo sertanejo José António Lopes. Levado para a
sede do distrito onde lhe foram tiradas as fotos aqui postadas, foi depois
deportado (desterrado) para Cabo Verde, onde terá porventura falecido em data
incerta.
Na minha modesta opinião, não era demais Angola resgatar os restos mortais deste e doutros angolano que jazem por esse mundo fora, para que possam finalmente descansar em paz.
Na minha modesta opinião, não era demais Angola resgatar os restos mortais deste e doutros angolano que jazem por esse mundo fora, para que possam finalmente descansar em paz.
Setúbal, 14 de Setembro de 2014.
Linda história, peca apenas em tratar os nossos reis Ohamba em Nkhumbi ou Humbe considerando isso como racismo cientico discriminando os nossos soberanos.
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